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MÍDIA: jornal | VEÍCULO: Folha de São Paulo | DATA: 31/10/2005 | CADERNO: Cotidiano | PÁGINA:
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Medo, comportamento e sociabilidade
Notícia
Presente nos Estados Unidos desde a década de 50, onde foi chamado de “suburbanização”, o processo de dispersão urbano é alvo de críticas tanto na terra das “highways” como no Brasil, onde o fenômeno é mais recente.
Entre os problemas associados ao novo modelo estão o acirramento das desigualdades sociais e o aumento do uso do carro. (…) O modelo, surgido nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, levou à desocupação das áreas centrais das cidades americanas e não tem sustentabilidade, dizem os autores. Isso porque enquanto se investe na revitalização dos centros deteriorados, a parte interna dos subúrbios já está sob risco, perdendo moradores e empreendimentos para locais mais vazios, em uma nova extremidade suburbana. A dispersão, de acordo com o livro, tem como base cinco componentes: áreas exclusivamente residenciais; shopping centers; centros de escritórios; e prédios como escolas, igrejas e instituições governamentais, cada um desses elementos separados dos demais. O quinto componente são as rodovias. (…) A versão brasileira desse tipo de ocupação recebe críticas parecidas da urbanista Regina Monteiro, diretora da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização). “Cada um faz o seu loteamento. É o investidor particular fazendo o empreendimento dele e o planejamento do território. Como fica o transporte coletivo, como é tratado o esgoto, quanto custa o envio de água a esses lugares?”. (…) “Em cada país você vai encontrar o problema de uma determinada forma”, diz a urbanista Jane Duduch, professora da PUC de Campinas, que participou da pesquisa do laboratório de estudos sobre urbanização da USP. “No Brasil, a dispersão tornará a situação muito crítica, porque o modelo tende a reforçar as desigualdades sociais.” Para ela, a questão fundamental é o enfraquecimento do Estado na gestão do território, em prol de uma gestão propiciada pela iniciativa privada. “Em Campinas, há crianças que saem do condomínio privado, passam pelas rodovias, vão para a escola que funciona dentro do shopping Galerias, almoçam no shopping, fazem ginástica no shopping, vão ao cinema no shopping e depois voltam para o condomínio. Elas moram fora da noção de cidade, em um lugar descontextualizado. Não convivem com o centro histórico. Na verdade, temem passear no centro histórico”, diz Duduch. O superintendente da Alphaville, marca que se tornou quase sinônimo de condomínios fechados no país, Nuno Lopes, discorda. “Boa parte da população quer que o filho possa ficar solto, ir no vizinho, mas com a mesma noção de espaço controlado que tem em apartamento. Não há diferença entre as crianças que moram em prédio e as de condomínio.” Ele afirma que o fato de moradores de Alphaville trabalharem e estudarem sem precisar sair do condomínio também apresenta vantagens urbanísticas. “Do ponto de vista do tráfego, é altamente desejável atualmente.”